Álvaro Ribeiro Regiani

FONTES IMPRESSAS EM UMA PERSPECTIVA DECOLONIAL NO ENSINO DE HISTÓRIA:  “NOVA VISÃO DO ÍNDIO HOLLYWOODIANO”.

Álvaro Ribeiro Regiani

 Introdução

 
O presente ensaio pretende discutir os usos das fontes impressas no ensino de história voltada à uma perspectiva decolonial. Os debates em torno da interculturalidade crítica com foco nos conceitos de colonialidade do “ser”, do “saber”, do “poder” e do “gênero” precipitaram um conjunto de críticas aos fundamentos epistemológicos de representações sobre os povos indígenas. Desse modo, objetiva-se analisar o artigo do jornalista estadunidense Paul Valentine, “Nova visão do índio hollywoodiano - outro mito?” (1991), traduzido pelo jornal O Estado de São Paulo da publicação “Hollywood’s Noble Indians are we dancing with myths? que abordou a questão indígena por meio da oposição ao estereótipo do “índio sustentável”.
 
Nesse sentido, pretende-se problematizar a continuidade do racismo contra os povos indígenas que constitui-se como um dos elementos aglutinadores e promotores do sistema-mundo. A instrumentalização do mesmo ocorre por meio da publicação e divulgação de narrativas que servem para subalternizar indivíduos e povos através do signo da diferença e, assim, manter desigualdades políticas, sociais e econômicas. No Brasil contemporâneo, ainda está presente no imaginário social a universalização do racionalismo que transformou os valores da cultura europeia como o único padrão de referência para a representação de outras culturas conforme encontrado em artigos da imprensa escrita alinhada ao conservadorismo.
 
Por conta desse olhar enviesado sobre os povos indígenas, cristalizou-se classificações sobre indivíduos e culturas por meio de referências temporais e espaciais. Somado a esta dilemática, a ausência de um campo mais amplo e consolidado sobre os povos indígenas que vivem e resistem no norte-global contribuem para a utilização de fontes jornalísticas duvidosas no ensino de história. Dada a urgência em que caminha as discussões sobre os povos indígenas, buscar novos diálogos críticos permite ir ao encontro de processos de aprendizagem intercultural para superar o racismo. 
 
O assimilacionismo na “Nova visão do índio hollywoodiano”
 
Em 08 de junho de 1991 foi publicado no jornal O Estado de São Paulo, o artigo “Nova visão do índio hollywoodiano - outro mito?” do jornalista norte-americano Paul Valentine. Em resposta a “aclamação” do filme “Dança com Lobos” (1990), quando, segundo o autor, “finalmente expelimos do nosso imaginário o índio hollywoodiano tradicional” do “selvagem indolente que não sabe controlar sua bebedeira” por uma “que é dotado de uma reverência singular pela terra e seus ecossistemas; que a conduta social, sustentada por uma antiga sabedoria, é universalmente orientada por instintos humanos e igualitários e que é portador de um direito ancestral inalienável sobre cada palmo do território americano” (VALENTINE, 1991, p. 4).
 
A nova representação do indígena feita pelo roteirista de “Dança com lobos” e escritor do livro homônimo Michael Blake, atraiu a atenção do público e da crítica para uma abordagem ecológica. O que certamente irritou certos grupos de interesse. Segundo Paul Valentine após “meses de aclamação coroados pelos Oscars deste ano” a narrativa e as figurações do filme foram um “purgante psicológico” que caracterizaram os “nativos americanos num todo monolítico” em uma “espécie de caricatura romantizada” decorrente dos “sofrimentos” que “infligiram os euro-americanos nos últimos 500 anos” (VALENTINE, 1991, p. 4).
 
Ainda na argumentação do jornalista, mesmo antes do filme ser concebido “os índios fruíram um renascimento em termos de orgulho cultural” obtido pelo apoio de “brancos ativistas, atores, políticos, ambientalistas e defensores da volta à natureza” por conta da “nossa urgência movida pela culpa de acolher novas imagens”. A politização feita por Paul Valentine sobre as questões indígena e ecológica tinha o intuito de transformar lutas históricas por direitos em uma disputa por narrativas históricas. Assim, o autor determinava que a contraposição ao ‘sofrimento’ dos povos indígenas pela ‘culpa’ da “América branca” deveria ser outra: “A entrada dos europeus nesse cenário há 500 anos foi, num sentido histórico, simplesmente uma elaboração, uma extensão, daquilo que vinha ocorrendo desde milênios antes dessa chegada acompanhada de expropriação, guerra e imperialismo” (VALENTINE, 1991, p. 4).
 
Desse modo, o jornalista tornava branda a invasão da América, ou seja, ocultava os conflitos e negava outros fatores históricos para condicionar tudo à uma única causa, a natural expansão humana. Nos usos históricos que Paul Valentine fez, as causas históricas deveriam ser interpretadas pelas diferenças culturais, pois “tribo após tribo, todos culturalmente distintas, falando línguas diferentes, adorando deuses diversos, deixaram suas impressões sobre a terra”. Mas,  concluía dando um valor etnocêntrico para pontuar os limites dessas diferenças: “A única diferença é que alguns dos últimos tribais tinham a pele branca (VALENTINE, 1991, p 5).
 
Paul Valentine induzia seus leitores a uma opinião de que o que ocorreu no passado colonial não deveria repercutir no tempo presente. Contudo, este argumento só valia para as ações dos colonos europeus, pois, o mesmo argumento não foi utilizado quando ele narrava os conflitos entre os povos indígenas. O jornalista utilizou ações e eventos sobre as caças, as guerras e as relações assimétricas de gênero para justificar a existência de uma moralidade comum à indígenas e euro-americanos: “Mas a história nos ensina que os índios, como todos os grupos na face da Terra, são um aglomerado misto com enorme e variada capacidade para o bem e para o mal” (VALENTINE, 1991, p. 4).
 
Sem considerá-los como sujeitos históricos, Paul Valentine utilizou como referência as narrativas sobre os conflitos europeus para qualificar e enquadrar os povos indígenas. Desse modo, seguiu um padrão de referência moral para descrever que os “Tahltans do oeste canadense, que guerreavam constantemente com seus vizinhos, matavam os prisioneiros homens e escravizavam as mulheres”. Assim como “muitos Choctaws, Creeks e Cherokees, no sudeste dos Estado Unidos, chegavam a ter escravos africanos no século XIX, exatamente como seus vizinhos brancos” (VALENTINE, 1991, p. 4).
 
Além de supervalorizar esta condição belicosa, Paul Valentine reproduziu uma suposta opressão sofrida pelos americanos por ecologistas por acreditar que alguns indígenas também estavam poluindo o mundo: “Os índios agricultores da Nova Inglaterra faziam a limpa da terra usando a técnica da derrubada e queimada, enquanto a maioria nômade de coletores e caçadores mudava de um lugar para outro em busca de alimento. Embora essa poluição, comparada à poluição industrial da América no final do século XX, tenha sido modesta, ela não deixou de ter seu peso” (VALENTINE, 1991, p. 4).
 
A crítica sem quaisquer estudos científicos transparecia uma ignorância por convicção. Mas, o fictício nivelamento entre os usos dos recursos naturais por indígenas e não-indígenas tinha o intuito de definir que a poluição causada pelos Estados Unidos já estava em curso séculos antes. Contudo, tal assertiva não poderia ser mais falaciosa: “O efeito estufa provocado pelo homem é causado principalmente pela emissão de CO², clorofluorcarbonetos (CFCs), halogênios, metano, óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos. Além de destabilizar o clima, os CFCs e os halogênios também destroem a camada de ozônio, manto protetor que cerca a Terra e filtra a radiação ultravioleta do sol. A maior parte da proteção de CFCs também aconteceu no mundo industrializado. Em 1991, a África usou apenas 12.000 toneladas, contra 90.000 toneladas nos EUA” (SHIVA, 2000, p. 168).
 
Ainda sobre este ponto, o historiador Vine Deloria Jr, observa que discursos como o de Paul Valentine podem ser enquadrados entre os “teóricos da extinção”: “Algumas pessoas ficam ofendidas com o pensamento de que muitos as pessoas acreditam que os índios eram mais preocupados e atenciosos ecologistas do que os usuários industriais modernos. Defendendo a teoria da extinção é uma boa maneira de apoiar a contínua espoliação do meio ambiente, sugerindo que em nenhum momento os seres humanos foram cuidadosos com as terras sobre que viviam” (DELORIA, 1997, p. 105).
 
Há no artigo de Paul Valentine um claro exemplo de como algumas afirmações sem referências conduzem para uma naturalização dos conflitos pelas diferenças culturais e do encobrimento dos conflitos ecológicos, econômicos, jurídicos e políticos. A negação das contradições sociais pela ausência de distinções entre economias não-predatórias e economias capitalistas, por exemplo, explicam a posição político-ideológica, tanto dos jornais quanto de seu artigo. Mas, o cerne da questão está na fundamentação teórica do autor.
 
Há poucas referências bibliográficas encontradas no artigo de Paul Valentine, dentre elas encontra-se a de Elizabeth Baity. Conforme citado no artigo, o fogo causado pelos Arapaho no Colorado, “por muitos anos seguidos os animais não conseguiram encontrar alimento nessa áreas queimadas, e a fome seria a etapa final do processo de destruição” (VALENTINE, 1991, p. 4).
 
Entretanto, “A América antes de Colombo”, de Elizabeth Baity, é um livro infantil publicado em 1951 (Cf. BAITY, 1951). Embora não haja nenhum problema em diversificar a fundamentação teórica, só é necessário observar a pertinência de uma obra para uma discussão científica no jornalismo. Pois, sem explicar a tipologia do seu referencial teórico, o argumento, como de Paul Valentine, cai em descrédito.
 
De todo modo, a discussão sobre a ecologia e a economia sustentável ganhou a pauta na década de 90 e colocou um conjunto de autores indigenistas ao lado de defensores da natureza. Foi para rebater esses intelectuais que Paul Valentine dirigiu suas palavras. Contudo, na tradução feita pelo Estadão foram suprimidos os nomes dos intelectuais que Valentine criticou, mas na versão original são citados Alvin M. Josephy Jr., John Collier e Vine Deloria Jr.. Segundo Valentine, eles defendiam o “sagrado apego à terra e uma reverência pela natureza que é incompreensível para a maioria dos brancos” (VALENTINE, 1991a, p. 1, nossa tradução).
 
Além dos nomes, também ficou de fora da tradução brasileira, passagens importantes como “muitas sociedades indígenas eram altamente estratificadas e governadas por anciões tribais autoritários. Seguida por um exemplo, a grande Confederação Iroquois adotou algumas instituições democráticas para determinar os direitos individuais e tribais entre seus membros. Mas a violência intertribal, o desprezo mútuo e a dominação social prevaleceram em grande parte da terra”. Assim, concluía o autor “mesmo que muitas tribos tenham conquistado suas terras pela força bruta ou traição, o uso das mesmas táticas pelos europeus é de alguma forma visto como muito mais hediondo” (VALENTINE, 1991a, p. 1, nossa tradução).
 
Ocultamentos podem revelar como são elaborados significados nas narrativas, principalmente, na circulação de ideias. Na década de 90, ainda era presente no imaginário brasileiro, a ilusão de sociedades pacíficas, a inexistência de conflitos ou apaziguados pela colonização. As interpretações de Paul Valentine poderiam ir contra um conjunto de idealizações e práticas tutelares que recaem sobre os povos indígenas. Entretanto, se a auto-censura do Estadão foi de natureza ideológica ou para enquadrar o texto no formato do jornal, o motivo ainda permanece entre os editores do suplemento Cultura.
 
Apesar da supressão de frases na tradução brasileira, o conteúdo ideológico permaneceu. A destituição das organizações políticas indígenas distintas da Europa-cristã e o encobrimento de contradições político-sociais-econômicas para definir a existência do único conflito existente, o cultural. Em certo sentido, o assimilacionismo que estrutura o viés de Paul Valentine em sua compreensão dos povos indígenas, era próximo a discursividades que, séculos antes, idealizaram a imagem dos gentios e do bom selvagem para solidificar práticas e representações de subalternização. Contemporaneamente, essas estratégias discursivas avolumaram-se, o que faz antigas representações tornarem-se atuais, mas em novas roupagens.
 
A confluência da determinação das diferenças como princípio dos conflitos e da interpretação moral da história estruturou a ideia que grupos mais fortes dominam e assimilam grupos mais fracos. Conforme foi escrito, “a verdade é que, se havia tribos livres, abertas, pacíficas e humanitárias, não faltaram aquelas que se caracterizassem pelo totalitarismo, agressividade e brutalidade extrema” e, continava, “algumas praticavam o escravagismo, a tortura, o sacrifício humano e o canibalismo, além de impor ditaduras sociais” (VALENTINE, 1991, p. 4).
 
Ao empregar características políticas como ‘totalitarismo’ e ‘ditaduras sociais’, Paul Valentine não só quis aproximar anacronicamente os povos indígenas, mas situá-los lado a lado com as principais catástrofes humanitárias do século XX. O que dava a entender para o leitor que o totalitarismo seria advindo da barbárie e não um mal advindo de uma sociedade massificada e capitalista em um contexto histórico bem específico. Outra linha interpretativa poderia ser a suposta superação do estado de guerra natural pela civilização ocidental enquanto os ameríndios continuavam a praticá-lo.
 
De todo modo, nessas assertivas os povos indígenas norte-americanos são descritos com pouca complexidade do ponto de vista histórico e antropológico. Os motivos para um determinado hábito ou ação são reduzidos a repetição da tradição ou apenas como manifestações naturais. De forma clara, a contraposição conservadora ao comunalismo e à imagem de indígenas ecológicos servia muito mais como um artifício retórico do que uma abstração concreta, sendo instrumentalizado para afirmar valores eurocristãos tradicionais e seu modo de consumista-liberal. Entretanto, nem o discurso do “índio sustentável” de liberais-progressivas e muito menos a visão conservadora do “índio” servem como guias seguros para a compreensão do modo de ser, saber, viver e (r)existir de povos indígenas.
 
Nos discursos liberais-progressistas do “índio sustentável”, apresenta-se uma destituição das particularidades de povos por meio da “biologização” de suas culturas, pelo qual os saberes advindos das cosmovisões e das variadas formas de ser e de agir no mundo são explicadas como imanentes. Em contrapartida, nos discursos conservadores as “críticas” à representação do “índio sustentável” anseiam desmistificar supostos “privilégios” naturais para estabelecer uma narrativa entre vencedores e vencidos. Mas, em ambas discursividades os padrões de referências são os mesmos, os ocidentais.
 
Neste sentido, o discurso assimilacionista pressupõe a existência de diferenças entre etnias, mas não promove sua inter-relação, apenas a distinção ou a incorporação violenta ou passiva. Assim, a sustentação sobre conflitos inerentes às diferenças culturais situa discursos que mantêm práticas racistas. Por isso, na utilização de textos jornalísticos no ensino de história, deve-se considerar que as narrativas sobre os povos ameríndios, seja no norte ou sul global, contém uma discursividade enviesada pelo assimilacionismo, como exemplificado na análise do artigo de Paul Valentine.
 
Com raríssimas exceções, a mídia impressa brasileira abre o seu espaço para reportagens sobre os indígenas da América do Norte, mas, infelizmente, matérias como a de Paul Valentine são veiculadas por jornais para difundir a ideia que a racialização advinda da colonização anglo-saxã foi mais severa que a ibérica pela ausência da “integração”.
 
Considerações finais
 
O véu de suspeita lançado por artigos de viés conservador como o de Paul Valentine contra a ecologia e a ‘reverência singular pela terra e seus ecossistemas’, somam-se a um conjunto de narrativas tendenciosas que servem a grupos de interesse. Os efeitos deste artigo de opinião são visíveis, a continuidade do assimilacionismo e da má consciência.
 
A publicação desses discursos no Brasil ainda produz outros efeitos como práticas e representações preconceituosas. Em sentido específico, nas mídias impressas brasileiras é reforçado a imagem de país sem guerras civis, cuja mestiçagem de povos levou a construção de uma civilização ímpar e que seus hábitos, modos e costumes são indiferenciáveis das matrizes indígena, portuguesa e africana. Esse imaginário, construído como um oposto à sociedade norte-americana, além da naturalização das contradições, em alguns discursos jornalísticos, há assertivas que defendem que com a mestiçagem haveria o fim do racismo.
 
Ao se posicionar junto às considerações de Lélia Gonzalez, problematiza-se o senso comum brasileiro sobre a distinção entre o racismo “aberto” e o “disfarçado” como estratégias para a internalização da suposta superioridade da colonização ibérica. No racismo de tipo anglo-saxão, a miscigenação era algo impensável, por isso a segregação foi juridicamente aceita. Já no racismo disfarçado e de origem latina, se permitia a assimilação (GONZALES, 1988, p. 72). Desse modo, o mito da democracia racial fica presente por associação com outras reportagens que narravam a “brandura” nas relações sociais tanto no passado colonial quanto na contemporaneidade.
 
Na década de 1990, o poder dessas narrativas produziram a repetição dos enredos eurocristãos para, novamente, classificar povos indígenas como inferiores, mas agora como ecologistas ou como fraudadores de um modo de vida ecológico. Neste âmbito, problematizar a definição de padrões como o assimilacionismo permite compreender como são elaboradas estratégias discursivas veiculadas pela mídia impressa. Ao utilizar os jornais como fontes históricas no ensino de história deve-se sempre pensa-las como “espaços que favoreçam o reconhecimento da diversidade e uma convivência respeitosa baseada no diálogo entre os diferentes atores sociopolíticos, oportunizando igualmente o acesso e a socialização dos múltiplos saberes” (SILVA, 2010, p. 46).
 
Em oposição ao discurso de Paul Valentine, sobrevive o relato de Dee Brown sobre o massacre contra os Sioux em 1890: “Tentamos correr”, contou Louise Pele de Doninha, “mas eles nos alvejavam como se fôssemos búfalos. Sei que há alguns brancos bons, mas os soldados deviam ser maus, para disparar contra crianças e mulheres. Soldados índios não fariam isso contra crianças brancas” (BROWN, 1973, p. 285).

Referências
 
Me. Álvaro Ribeiro Regiani, professor de História das Américas na Universidade Estadual de Goiás (UEG - Campus Nordeste).
 
Referências bibliográficas
 
BAITY, Elizabeth Chensly. Americans Before Columbus. New York: The Viking Press, 1951. Disponível em archive.org/ Acesso em 24 de Jan. de 2020.
 
BROWN, Dee. Enterrem meu coração na curva do rio: Uma história índia do Oeste americano. Tradução Geraldo Galvão Ferraz. São Paulo: Edições melhoramentos, 1973.
DELORIA, Veine. Red earth, white lies: Native Americans and the myth of scientific fact. New York: Scribner, 1997.
 
GONZALES, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In. Tempo brasileiro. Rio de Janeiro, nº 92/93, jan./jun. 1988, p. 69-82.
 
SHIVA, Vandana. O mundo no limite. In. GIDDENS, Anthony: HUTTON, Will (Orgs.). No limite da racionalidade. Tradução Maria Beatriz de Medina. Rio de Janeiro: Record, 2004.
 
SILVA, Maria da Penha da. A temática indígena no currículo escolar à luz da Lei 11.645/2008. Cadernos de pesquisa, São Luís, UFMA, v.17, n.2, p.39-47, maio-ago. 2010.
 
VALENTINE, Paul. Hollywood’s Noble Indians are we dancing with mits? The Washington Post. Washington. 31 de Jun. 1991a. In. https://www.washingtonpost.com/ Acesso em 02/12/2020.
 
VALENTINE, Paul. Nova visão do índio hollywoodiano - outro mito? O Estado de São Paulo, São Paulo, ano VII, n. 465, 8 de jun. 1991. Cultura.

13 comentários:

  1. kalina vanderlei paiva da silva12 de setembro de 2022 às 19:18

    Álvaro, excelente trabalho! Obrigada por chamar nossa atenção a essa crítica ao filme Dança com Lobos, e seus defensores, que deturpa a história indígena e colonial e culpa os indígenas por danos ecológicos cientificamente associados à industrialização. Em vi, não sei se você concorda, nessa crítica muito do discurso de culpabilização de minorias vinculado no Brasil em obras que defendem uma 'história politicamente incorreta'. Por outro lado, particularmente tenho muitas críticas ao filme em si, por apresentar um Salvador Branco (white savior), quebrando o protagonismo sioux, mas não tinha me atentado a essas outras críticas danosas.

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    1. Olá Kalina Vanderlei Paiva da Silva, muito obrigado pela leitura! Concordo inteiramente com você, os discursos de culpabilização das vítimas se somam aos do salvacionismo do homem branco.
      Álvaro Ribeiro Regiani

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  2. Fabrício José Pimenta de Araújo13 de setembro de 2022 às 08:10

    Bom dia Álvaro Ribeiro Regiani! Gostaria de parabenizar seu artigo pela crítica a essa postura imagética do ‘assimilacionismo’ como eixo das representações entre os povos originários e o colonizadores. Meu questionamento seria, qual seria a contraposição que as teorias decoloniais oferecem para construirmos outra opção para essa relação?

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    2. Olá Fabrício, obrigado pela leitura! A crítica decolonial incide sobre uma geopolítica epistemológica. A epistemologia não é neutra, há um lugar (geralmente europeu) que reconhece um saber. Neste ensaio foquei na epistemologia conservadora norte-americana e ao crítica-lá procurei evidenciar as estratégias discursivas para a manutenção da colonialidade do poder. Desse modo, a decolonialidade, por meio do pensamento crítico de fronteira, instrumentaliza uma crítica a esse saber universalizado e, logicamente, enviesado geograficamente e politicamente.
      Álvaro Ribeiro Regiani

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  3. Parabéns pelo trabalho! Escrita muito elegante! Penso após ler o trabalho que o discurso do agronegócio brasileiro se apropria de muitas das argumentações que foram analisadas. É comum os representantes do agronegócio criticarem o tamanho das reservas indígenas e defender o direito à exploração das mesmas.
    O mesmo discurso da culpa é manejado pelo latifúndio e atinge ecologistas e a igreja católica que segundo a classe proprietária, insuflar os índios contra a marcha do desenvolvimento.
    Waldson Luciano Corrêa Diniz.
    UFMS.
    CÂMPUS DO PANTANAL.

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    1. Olá Waldson, obrigado pela leitura! Concordo inteiramente, parte instigante das estratégias discursivas do agronegócio são "copiados" lá dos Estados Unidos e publicados, como opinião, em grandes jornais brasileiros.
      Álvaro Ribeiro Regiani

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  4. Parabéns pela pesquisa, professor Álvaro. É de grande relevância e urgência todas essas discussões as quais envolvem os processos de representações dos povos indígenas. Pegando carona na sua discussão, como a atuação docente é capaz de superar a propagação da imagem do "índio genérico" da rede básica no ensino privado? A problematização do livro didático e da maneira em que a Colonização é abordada já é comum nas discussões historiográficas, no entanto a autonomia do professor da rede pública (se é que se pode falar em autonomia) é maior que a do docente da rede privada, visto que estas instituições obedecem lógicas mercadológicas da produção do manual didático e também ideológica, por parte dos seus gestores. Qual frente de atuação o senhor enxerga como possível para superar a colonialidade no ensino da iniciativa privada?
    MATHEUS DOS SANTOS MARTINS, UFG
    MESTRANDO EM ENSINO DE HISTÓRIA (ProfHistória)

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    1. Olá Matheus, obrigado pela leitura! Que bom ver onde você chegou! Me enche de esperança! No ensino privado, o uso do livro didático (hoje mais mercadológico do que nunca) se faz como um item obrigatório, dado a pressão que os pais exercem na escola privada. Mas, de todo modo, o livro é um recurso didático possível, não o único e o mesmo pode ser passível de uma análise crítica, sem deslocar ou obstruir sua autoridade. As próprias imagens contidas neles sobre os indígenas, por exemplo, pode ser utilizada para ampliar o senso crítico dos alunos, como a representação de passividade indígena encontrada em várias fotos e pinturas. Neste sentido, ao questionar a representação de passividade dos povos indígenas você problematiza a colonialidade e posiciona o ensino com vias ao pensamento decolonial.
      Álvaro Ribeiro Regiani
      Álvaro Ribeiro Regiani

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  5. Bom dia, Álvaro Ribeiro Regiani! Primeiramente gostaria de te parabenizar por um trabalho tão incrível quanto este. Sobre a questão levantada é possível observamos em toda a formação da história indígena, que houve essa “romantização” por parte do homem branco para com a população indígena, que de fato, é extremamente revoltante! Gostaria de te perguntar, se existe alguma sugestão para com este assunto nas escolas brasileiras, que de alguma forma se passe o que realmente aconteceu desde o início da formação do nosso país, pois, sabemos que com uma estrutura escolar tão alienada, não se é passada a real história. O que poderia ser feito com relação a isso ?
    Outra questão levantada após ler este trabalho impecável é, você concorda que a visão que a maioria das pessoas com relação a cultura indígena, principalmente em que podemos ver hoje em dia é que a população indígena, pela visão de muitas pessoas, não se pode acompanhar a nossa sociedade pois a partir disso eles podem ser “deixados” de ser considerado indígena pelo simples fato de ter uma tecnologia, uma vestimenta adequada entre muitos outros aspectos?

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    1. Olá Aila, obrigado pela leitura! Eu sempre penso que é possível pensar a História Indígena relativizando o material veiculado pela escola, como o livro didático ou as festas comemorativas. Um exemplo, seria o "Dia do índio", proponho a seguinte reflexão com os alunos: Primeiro pergunte por que existe somente um (1) dia para celebrar os povos originários. Depois faça vários questionamentos: Por que o "índio" aparece sempre no singular?; Por que não são representados pelos nomes e os nomes de seus ancestrais?; Por que é sempre representado semi-nu?; Por fim, por que está sempre no passado colonial? E não no tempo presente?
      Repensar criticamente ou "desaprender o aprendido" vai ao encontro das suas indagações.
      Álvaro Ribeiro Regiani

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  6. Boa noite, gostaria de fazer minha participação acerca da pesquisa com a construção de dois simples questionamentos. Me chamo Daniela dos Santos Sampaio.

    Visando problematizar a continuidade do racismo contra a cultura dos povos originários das Américas, o pesquisador Álvaro Ribeiro Regiani disserta acerca das etnicidades de modo a desconstruir o ensino moldado por uma estrutura colonizadora de raíz eurocêntrica, responsável por endeusar os padrões europeus perante a sociedade outrora invadida e colonizada. Nessa perspectiva, como se desenvolve o fenômeno de retomada do protagonismo indígena na História desde o século XX até a atual realidade do século XXI?




    Diversos grupos que abrangem pesquisas ideologicamente tendenciosas em meio ao corpo social se utilizam de discurso de viés preconceituoso (ou conservador) direta ou indiretamente como fonte e respaldo no desenvolvimento de suas abordagens e representações. Como ocorre esse fenômeno?

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    1. Bom dia Daniela dos Santos Sampaio! Obrigado pela leitura. Dentro das lógicas discursivas há vários embates, num deles, o protagonismo tornar-se central nas discussões historiográficas. Mas, temos que considerar que os povos ameríndios sempre foram protagonistas de suas histórias, os Mexicas, por exemplo, falavam das caravelas como "montanhas flutuantes" e Kaká Werá Jacupé fala no "tempo das Grandes Canoas" para narrar o período inicial da invasão européia. Desse modo, não há uma 'retomada do protagonismo', mas um reconhecimento do mesmo pela historiografia. Indo em direção a sua última pergunta, não há uma única narrativa ideológica, por isso há vários fundamentos motivados por grupos de interesse e de pressão que produzem discursos de acordo com suas necessidades econômicas, políticas, sociais e culturais.
      Álvaro Ribeiro Regiani

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