Gabrielle Legnaghi de Almeida e Christian Fausto Moraes dos Santos

NATUREZA TROPICAL E A FLORA MEDICINAL: PLANTAS CURATIVAS DA AMÉRICA PORTUGUESA DO SÉCULO XVI

Gabrielle Legnaghi de Almeida

Christian Fausto Moraes dos Santos

 
 
Introdução

No contexto de expansão pelas rotas marítimas no século XVI, as potências ibéricas reconectaram o mundo a partir dos elementos de caráter biológico. Motivados pela expansão da fé cristã, desejo de enriquecimento, e mais produtos para comercializar nos portos, onde as rotas já eram conhecidas, o europeu quinhentista chega ao Novo Mundo e se depara com uma natureza inóspita, mas que, em um primeiro momento, é vista com encantamento. No início da Era Moderna a descoberta das novas terras é descrita com grandes doses de fascínio, amplamente presente em cartas, tratados, relatórios oficiais, diários de viagens e em outros documentos escritos.
 
As fontes históricas feitas por viajantes, aventureiros, religiosos, oficiais reais, e demais personagens que cruzaram o Atlântico, permitem a compreensão do pensamento do homem quinhentista. Para além, esses relatos também expõem a percepção sobre a natureza, a relação do europeu com o desconhecido, a lógica mercantil, e os interesses pessoais e real, em um cenário que esboça o início de um dos primeiros processos de globalização da história. Ao chegarem no Novo Mundo os bons ares eram destacados evidenciando sua qualidade, fator essencial para a considerar um ambiente saudável e de natureza farta. O escrivão da Armada de Pedro Álvares Cabral (1467/68 – 1520), Pero Vaz de Caminha (1450 – 1500), escreve em 1500 o primeiro relato escrito sobre o que viria a ser o Brasil, afirmando que a terra é de [...] muito bons ares, assim frios e temperados [...] (CAMINHA, 1999, p. 93).
 
Sobre o a natureza tropical, o missionário francês Jean de Léry (1536 – 1613) em sua obra Viagem à Terra do Brasil, publicada pela primeira vez em 1578, destaca [...] a beleza do ar, a formosura das árvores e das plantas, a excelência das frutas [...] (LÉRY, 1961, p. 144), já tomando nota de elementos que podem ser utilizados. Porém, a visão encantada sobre o suposto paraíso, o Éden, logo é quebrada pelos constantes desafios que cercaram o processo de fixação no território, e o ambiente que ora era descrito com fascínio, se revelou hostil e inóspito. A permanência em uma natureza totalmente nova, desconhecida e repleta de perigos demandava de técnicas e conhecimentos que não estavam presente nas embarcações europeias. As habilidades do europeu do início da Era Moderna não eram suficientes para enfrentar a densa Mata Atlântica com um complexo de bacias hidrográficas e os distintos biomas que compunham o território. A flora venenosa e medicinal, para o europeu, não tinha distinção; os animais eram singulares e perigosos; os recursos alimentícios eram limitados, já que não se podia diferenciar espontaneamente os alimentos de venenos. E ainda, as terras tropicais contavam com habitantes hostis, e ao mesmo tempo, dependiam dos saberes nativos para suprir as necessidades básicas de sobrevivência.
 
Somando com as barreiras impostas pela floresta, a longa travessia em condições insalubres agravava a situação dos recém-chegados. Com a escassez de recursos provenientes da Europa para a manutenção da saúde, a natureza tropical acabou sendo constantemente desvendada para essa finalidade. Diante das dificuldades do processo de estabelecimento no Novo Mundo, conhecer o território tornou-se uma tarefa fundamental e diretamente relacionada com a exploração de recursos e com a própria sobrevivência. O controle das informações, desde as condições para a navegação; as características das distintas regiões; a identificação das peculiaridades físicas e climáticas; a descoberta de novas espécies da fauna e flora nativa; observação de doenças endêmicas e os tratamentos realizados, fazendo uso dos elementos oferecidos pela natureza, foram práticas que possibilitaram o estabelecimento e desenvolvimento do processo colonizatório nos trópicos. (GASTEIRA, 2004, p. 71).
 
A partir da necessidade de reconhecimento da floresta tropical, os documentos sobre as novas terras detalhavam amplos aspectos da natureza, e eram tecidos a partir do paradigma filosófico natural do século XVI. Nesse processo, os elementos botânicos de caráter medicinal serviram de alicerce para a sobrevivência no Novo Mundo, além de contribuírem para a formação de registros médicos pautados na flora tropical. Para a medicina europeia, que seguira o modelo da teoria humoral, a saúde relacionava-se com o equilíbrio dos chamados humores corporais, sendo eles: sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra. As doenças ou problemas de saúde decorriam do desequilíbrio desses quatro componentes, em que poderiam ser afetados por qualquer tipo de causa externa. Essas causas externas, estavam relacionadas com os ares e lugares, oriundas da Teoria Hipocrático Galênica, base para os saberes médicos do período. A partir dessa teoria, recomendava-se que a saúde seja preservada, e existia seis pontos nos quais se refere a cuidados e moderações com o ambiente e o ar; com bebidas e comidas; com o sono; com o descansar; com a eliminação de impurezas e com as paixões da alma, garantindo então o bom estado do corpo. (MARTINS et. al., 2008).
 
Dessa forma, a partir das concepções de cura e enfermidade estabelecidas no Velho Mundo, os aventureiros que chegaram aos trópicos tiveram a necessidade de adaptar os recursos botânicos presentes na Mata Atlântica, visando sanar os problemas de saúde e qualquer outro fator que afetava o equilíbrio corporal. Munidos de suas próprias concepções de cura e conhecimentos médicos, o europeu passou desvendar a natureza americana a partir de saberes desenvolvidos a partir do empirismo, observação e técnicas dos habitantes dos trópicos.
 
Desenvolvimento

A partir da análise das fontes documentais produzidas no século XVI que fizeram referência a natureza encontrada no Novo Mundo, os elementos botânicos utilizados para fins medicinais receberam destaque nas produções escritas. Nas análises das descrições e tratados feitos por missionários, colonizadores, aventureiros e outros personagens que também fizeram sua contribuição enriquecendo os detalhes sobre a natureza tropical, essa flora teve um importante papel para a sobrevivência do europeu nos trópicos. Visando a permanência em um ambiente totalmente diferente do que estavam habituados, a flora medicinal tropical foi uma fonte de recursos alternativa, já que os elementos medicinais europeus não estavam disponíveis. Assim, a partir da associação entre elementos e suas propriedades, somando com os saberes curativos dos habitantes dos trópicos, as práticas de cura foram adaptadas e amplamente utilizadas.
 
Dada a necessidade de adentrar na densa Mata Atlântica afim de reconhecê-la, um dos principais agentes que facilitaram esse processo foi os missionários demais representantes da fé cristã. A presença religiosa se expressa nos documentos do período, contendo informações valiosas sobre os indígenas a partir da interação e intento de convertê-los à religião. Descrições envolvendo a religiosidade dos nativos americanos, seus costumes, organização social, dinâmicas de grupo, política, linguagem, além de descrições sobre o ambiente, também contribuíram para o estabelecimento português nos trópicos. Para além, a troca de saberes e técnicas nativas resultaram na ampliação dos paradigmas europeus, rompendo a, até então, pacífica unidade da natureza. A atuação de missionários pertencentes a Companhia de Jesus foi essencial para a transposição dos costumes que se construíram na América Portuguesa. Esse processo de reprodução dos modelos europeus, que eram ausentes nas terras recém-descobertas, marcou a conquista do território (ASSUNÇAO, 2001, p. 78-79).
 
Na tentativa de buscar nas florestas desconhecidas alguns elementos familiares aos que já eram conhecidos no Velho Mundo, o paradigma médico europeu foi fortemente utilizado, em uma tentativa de identificar as propriedades e temperamento do elemento para aplicá-lo na contenção dos frequentes males tropicais. Nesse processo, a atuação da Companhia de Jesus teve grande importância. A relação entre a ação jesuítica e a cura de enfermos era constante, já que havia carência de profissionais de saúde europeus no Novo Mundo, principalmente nos primeiros séculos de colonização. Dessa forma, em um ambiente repleto de animais peçonhentos, acidentes variados, conflito com nativos hostis, e ainda, males causados em decorrência da longa travessia transatlântica, fez-se necessário a atuação de missionários para combater as mazelas do corpo. E dentre a sua atuação, esses missionários atuavam de forma política, colonizadora, e catequizadora, legitimados pela suposta caridade religiosa.
 
No Velho Mundo era comum o contato de jesuítas com os herbários localizados nos mosteiros. As práticas de cura feitas por missionários também envolviam a manipulação de drogas curativas e receitas de boticas, assim, esses religiosos, ao adentrarem na floresta tropical, já possuíam noções sobre tratamentos e medicamentos. Com a insuficiência de médicos letrados, os missionários passaram a desempenhar ativamente esse papel, identificando, registrando, receitando e curando nos trópicos. O missionário francês Jean de Léry, que conviveu com os tupinambás em 1563, escreve em 1578, um relato em que faz o uso Hiyuaré, amplamente utilizado por indígenas contra o pian, enfermidade que [...] sofrem os nossos americanos de uma moléstia incurável, denominada pian [...]. Transformando-se o mal em pústulas mais grossas do que o polegar, que se espalham por todo o corpo [...] (LERY, 1961, p.195). Para a cura, Léry destaca a utilidade da casca de hiyuaré, [...] que se tratava de uma espécie de guaiaco [...] (LERY, 1961, p. 137) já utilizada para fins analgésicos e anti-inflamatórios. O francês ainda relaciona a gravidade da doença, comparando-a com a varíola em território europeu.
 
No processo de reconhecimento de plantas curativas, a Cabureíba também é evidenciada em diversos relatos, como nos do padre jesuíta Fernão Cardim, que escreve, entre 1583 e 1601, o Tratado de Terra e Gente do Brasil. Segundo ele, esta arvore é estimada [...] por causa do bálsamo que tem [...], se pica a casca da árvore, e lhe põem um pequeno d’algodão nos golpes, e de certos em certos dias vão recolher o óleo que ali se destila [...]. Suas virtudes, escreve Cardim, serve para feridas que o autor chama de ―frescas‖, que o bálsamo cheiroso retira todo o sinal. (CARDIM, 2014, p. 22). Ainda sobre a Cabureíba, o colono Gabriel Soares de Sousa também a descreve em seu Tratado descritivo do Brasil, em 1587, destacando, assim como Cardim (2014), seu licor suave de cheiro agradável, o processo de retirada e recolhimento do líquido com o auxílio de algodões, e ainda, suas propriedades milagrosas para a cura de feridas frescas e cicatrizes. (SOUSA, 1971, p. 202).
 
A Copaíba, famosa por seu bálsamo e atualmente utilizada em larga escala pela indústria farmacêutica e empresas de cosméticos, também foi aproveitada no século XVI. Foi descrita em 1578 por Pero de Magalhães Gândavo, em sua História da Província de Santa Cruz, onde destaca suas propriedades curativas e o poder de cicatrização de seu bálsamo. No mesmo processo de reconhecimento, esta árvore virtuosa também é caracterizada por Fernão Cardim (2014) como sendo uma figueira alta, direita e grossa, dela retira-se o óleo em quantidades consideráveis quando cortada pelo meio. Sobre a utilização para fins medicinais, Gabriel Soares de Sousa (1971) descreve de maneira mais detalhada, e defende ser [...] excelente para curar feridas frescas, onde são soldadas e queimadas com o óleo, não necessitando de outras mezinhas para a cura [...]; estendendo suas virtudes, Gabriel Soares afirma também a utilidade do bálsamo, servindo para [...] frialdades, dores de barriga e pontadas de frio é este óleo santíssimo [...] (SOUSA, 1971, p. 202).
 
Além de feridas em geral, era comum os desavisados europeus entrarem em contado com animais peçonhentos. Assim, as plantas contra peçonhas eram largamente utilizadas. O Espargão, descrito pelo frade francês André Threvet (1978) na obra As singularidades da França Antártica, publicada pela primeira vez em 1557, era aplicado sobre as chagas e as feridas, também causadas por víboras ou outros animais com peçonha, [...] de que a planta tira o veneno para fora do corpo [...] (THREVET, 1978, p. 86). Ainda contra o veneno de animais peçonhentos, Cardim (2014) destaca o Caiapiá, mas que [...] esta erva há pouco que é descoberta, é único remédio para peçonha de toda sorte, maximé de cobras, e assim se chama erva-de-cobra [...] (CARDIM, 2014, p. 31).
 
Outras enfermidades e mazelas tropicais também são fortemente assistidas pela utilização de elementos botânicos medicinais. A citação de plantas como o umbu ou a pacoba para febre (CARDIM, 2014, p. 20-29); o petyn para expurgar humores (LERY, 1961, p.141); ou a cabureiba para também curar flechadas (SOARES, 1971, p.318), evidenciam a assistência que a botânica tropical proporcionava para combater as mazelas do corpo, servido de mecanismo para a manutenção da saúde.
 
Diante das dificuldades e desafios propostos pelo novo ambiente, a cura só poderia ser realizada com a flora local, junto com o saber indígena somado ao europeu (ASSUNÇAO, 2001). O processo de doença e sua cura podem confirmar a visão de que a natureza deve ser utilizada à serviço do homem, onde os saberes se integram e relacionam-se, corroborando para a descoberta de propriedades terapêuticas da natureza brasílica.
 
Conclusão

Os descobrimentos do século XVI foram os responsáveis pela acumulação e divulgação de conhecimentos sobre a flora brasílica, evidenciando as distinções do meio natural dos dois mundos, fisicamente separados pelo Oceano Atlântico. A colonização das terras tropicais proporcionou ao homem do Velho Mundo uma ampliação do conhecimento referente aos produtos da natureza, possibilitando a inserção de espécies em outro ambiente e a adaptação dos europeus nas américas. (GESTEIRA, 2004, p.71). Este saber se mostrou indispensável para garantir a permanência e conquista do europeu no processo de colonização. Neste contexto, as plantas que curam, desempenharam um papel de destaque nas práticas médicas e na manutenção da saúde, servindo de base para os tratamentos nos trópicos.
 
A significativa extensão do território do Novo Mundo possibilitou ao europeu o contato com uma enorme diversidade vegetal que nunca fora vista, chamando assim, a atenção e o olhar atento de missionários, colonizadores e viajantes que se dedicaram a registrar os diversos elementos botânicos encontrados. Esse levantamento sobre a flora brasílica possibilitou, além do reconhecimento do território, a sua utilização como mecanismo para a sobrevivência e fixação do Europeu nos trópicos. Graças a isso e a partir do conhecimento nativo acerca das plantas de caráter medicinal, foi possível sua utilização para driblar os problemas referente ao corpo e a manutenção da saúde, adaptando técnicas europeias as condições dos trópicos.
 
Referencias Biográficas

Gabrielle Legnaghi de Almeida. Graduada e Mestre em História pela Universidade Estadual de Maringá. Doutoranda em História (Universidade Estadual de Maringá).
 
Professor Doutor Christian Fausto Moraes dos Santos. Professor e Pesquisador na área de História das Ciências na Universidade Estadual de Maringá.
 
Referências e fontes

ASSUNÇÃO, Paulo. A terra dos Brasis a natureza da America portuguesa vista pelos primeiros jesuitas (1549 - 1596). Sao Paulo: Annablume 2001.
 
CAMINHA, Pero Vaz de Caminha. Carta a el Rey Dom Manuel. 2. Ed. Coment. E ilust. São Paulo: Ediouro, 1999.
 
CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. São Paulo: Poeteiro Editor Digital, 2015.
GANDAVO, Pero de Magalhães. História da Província Santa Cruz / Tratado da Terra do  Brasil. São Paulo: Editora Obelisco, 1964.
 
GESTEIRA, H. M. A cura do corpo, conversão da alma. Topoi (Rio de Janeiro), Rio de  Janeiro, v. 5, n.8, p. 71-95, 2004.
 
LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil. [S.I.]: Biblioteca do Exército, 1961.
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado descritivo do Brasil. São Paulo: Brasiliana, 1971.
 
THEVET, André. As singularidades da França Antártica. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1978.
 
MARTINS, Lilian Al-Chueyr Pereira; DA SILVA, Paulo José Carvalho; MUTARELLI, Sandra Regina Kuka. A teoria dos temperamentos: do corpus hippocraticum ao século XIX. Memorandum: Memória e História em Psicologia, v. 14, p. 9-24, 2008.

14 comentários:

  1. LEONARDO BORGES GONÇALVES12 de setembro de 2022 às 21:51

    Parabéns pelo texto.
    Os autores acreditam que o desbravamento estimulado nas reduções e missões jesuíticas a fim de extração das drogas do sertão contribuiu para catalogação e polarização da flora curativa?

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    1. Olá, obrigada pela pergunta! A partir da análise transversal das fontes documentais, pode-se estimar que, a princípio, o que mais estimulou a produção de verdadeiros dicionários botânicos sobre a flora (assim como fauna e demais elementos naturais), foi a necessidade de sobrevivência em um ambiente totalmente desconhecido. Posteriormente, com o decorrer do processo de ocupação do território, pode-se relacionar o as missões com a catalogação e registro da natureza. - Gabrielle Legnaghi de Almeida

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  2. LEONARDO BORGES GONÇALVES12 de setembro de 2022 às 23:17

    Parabéns pelo texto.
    Os autores acreditam que o desbravamento estimulado nas reduções e missões jesuíticas a fim de extração das drogas do sertão contribuiu para catalogação e popularização da flora curativa?
    LEONARDO BORGES GONÇALVES

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  3. kalina vanderlei paiva da silva14 de setembro de 2022 às 19:25

    Importante temática transversal para o ensino. Pergunto sobre a relação dessa temática com as culturas indígenas.

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  4. Rebeca da Silva Maciel15 de setembro de 2022 às 02:41

    Excelente pesquisa. Os autores acreditam que durante o processo de construção da sociedade brasileira, as práticas medicinais dos povos originários utilizadas pelos colonizadores foram amplamente difundidas, ou enfrentaram muitas ressalvas pelos praticantes da medicina europeia? Além disso, é seguro dizer que alguns saberes e conhecimentos tradicionais correm risco de desaparecer junto ao atual apagamento da cultura e da língua de comunidades indígenas?

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    1. Olá, obrigada pela pergunta! Acredito que ocorreu uma mescla de saberes. É inegável a dominância da medicina europeia (herança de Hipócrates e Galeno) nas práticas curativas coloniais, porém, a partir da associação de elementos, principalmente pelas similitudes, ocorreu uma mistura entre os conhecimentos médicos de ambos os Mundos. Dado que os indígenas eram os únicos conhecedores da natureza, houve a necessidade de interação e utilização desses saberes para a sobrevivência nos trópicos. Ademais, inúmeras plantas, bem como sua utilização, foram transplantadas à Europa e viviraram, como por exemplo o Tabaco, símbolo de status que permeou durante os séculos seguintes. Sobre a segunda pergunta, creio que a história e memória dos povos indígenas resistirá em práticas, ritos, crenças, elementos, etc. mesmo que nao de forma evidente. - Gabrielle Legnaghi de Almeida

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  5. Davi Juraci da Silva e Silva15 de setembro de 2022 às 03:31

    Primeiramente gostaria de parabenizar os autores por apresentar um excelente texto rico em informação. Segundo, participar fazendo duas perguntas.

    É notório em todo o texto que o saber dos povos indígenas foi de extrema importância para a catalogação da fauna e flora de nosso país, possibilitando o desenvolvimento de procedimentos médicos, se os colonizadores, com suas caravanas, tivessem uma abordagem de reconhecimento e uma troca de saberes mais efetiva, ao invés de violenta e repressora, poderíamos ter chegado em soluções mais rápidas nas várias crises de saúde que ocorreram ao longo da história de nosso país?

    Os colonizadores se mostraram muito preocupados com as doenças, animais e plantas desconhecidas, mas não se atentaram ao fato de trazem consigo várias doenças para aquela nova Terra, em algum momento eles perceberam que apenas sua presença ali causava grande risco a população nativa?

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    1. Olá, obrigada pelas perguntas! Sobre a primeira, nao se pode generalizar como violento o primeiro contato com os nativos. Alguns grupos representavam sim perigo aos colonizadores. Porém, houveram grupos "pacificos" que se aliaram aos colonizadore. As tropas de Cortes, por exemplo, no altiplano mexicano encontraram aliados indígenas conta a soberania do império Asteca. Nao vejo com clareza a relação entre o contato com os indígenas e as questões sanitárias que o Brasil passou. Sobre a segunda questão, os colonizadores eram vetores involuntários, nao se tinha o conhecimento do que hoje conhecemos como vírus, bactérias, epidemias, etc. As justificativas eram envoltas pela religião, e os nativos morriam, de acordo com os exploradores do século XVI, por serem infieis e não pertencerem à fé católica. - Gabrielle Legnaghi de Almeida

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  6. Amanda Sabrina de Oliveira Carvalho15 de setembro de 2022 às 11:41

    Fica evidente no texto que o conhecimento indígena juntamente com o conhecimento europeu foi de extrema importância para que pudessem utilizar da medicina natural para curar enfermidades da época. Tendo em vista que esse tipo de medicina é pouco recomendada, você acha que ela pode ser considerada uma alternativa ainda no século XXI? Se sim, quais seriam benefícios da sua utilização?

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    1. Olá, obrigada pela pergunta! Dado os avanços das indústrias quimica, farmacêutica, bem como os avanços médicos, acredito que, os elementos medicinais das florestas, utilizados no século XVI, não sanam os problemas atuais de uma sociedade urbanizada. - Gabrielle Legnaghi de Almeida

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  7. Amanda Sabrina de Oliveira Carvalho15 de setembro de 2022 às 21:05

    O texto evidencia que eles ficaram enfermos por mazelas tropicais, contato com animais peçonhentos e feridas. Mas existe a possibilidade deles terem trago doenças para o Brasil?

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    1. Olá, obrigada pela pergunta! Sim, os colonizadores europeus eram vetores de inúmeras doenças que os indígenas jamais haviam experimentado. A varíola, por exemplo foi responsável por dizimar, tanto na América Espanhola quanto na América Portuguesa, uma significativa quantidade de nativos americanos. No caso da América Espanhola, a varíola contribuiu para o fim do Império Asteca pelas tropas de Cortes. A sífilis também foi outra enfermidade largamente relatada no século XVI, evidenciando a crueldade do processo colonizador. - Gabrielle Legnaghi de Almeida

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  8. Boa noite, parabéns pelo texto. Sou pesquisador da área de História Ambiental e os relatos de viajantes são constantemente usados como fontes, principalmente pela riqueza dos detalhes da flora e fauna expressos em seus textos. Também pesquiso História indígena e a relação desses povos com a natureza. A minha pergunta é uma curiosidade de pesquisador: nos relatos de viajantes/missionários/pesquisadores usados como fontes para este trabalho, há menção da participação de indígenas seja a respeito do conhecimento da floresta, como guias desses viajantes, ou mesmo como "apresentadores" das plantas medicinais? Fico no aguardo. Obrigado e parabéns mais uma vez. Jackson Alexsandro Peres

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    1. Olá, obrigada pela pergunta! Sim, há a menção de grupos específicos que auxiliaram nos registros documentais do período. No século XVII, por exemplo, os tapuias tiveram um papel fundamental para a formulação do primeiro registro de caráter técnico sobre a natureza americana, o médico Guilherme Piso e o naturalista Georg Marcgrafe teceram um verdadeiro dicionário da natureza brasileira, mais especificamente do nordeste do país, baseando-se nos saberes dos tapuias. - Gabrielle Legnaghi de Almeida

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