AS AFRICANIDADES CATARINENSES NOS CURRÍCULOS BASE DO TERRITÓRIO CATARINENSE
Odair de Souza
Durante
muito tempo, historicamente o Estado de Santa Catarina foi e continua sendo
caracterizado como um “pedaço do solo europeu no sul do Brasil”. Obras que se
tornaram clássicas de renomados autores brasileiros como Fernando Henrique
Cardoso e Octávio Iani (1960); Fernando Henrique Cardoso (2000) e catarinenses
como Oswaldo Rodrigues Cabral (1970) e
Walter Piazza (1975;1999) ratificavam e reforçavam essa tese, ou seja, a
de que, como no Brasil meridional não teve a grande produção manufatureira do
açúcar como no nordeste brasileiro, a presença de africanos e afro-brasileiros
no sul do Brasil e, em especial em Santa Catarina era de número reduzido e até
insignificante.
Esta invisibilidade africana, afro-brasileira
e indígena, foi fruto de uma construção social e histórica feito por meio de
intelectuais catarinenses. Na dissertação: “Margem das palavras, silêncio dos números: o negro na historiografia
catarinense”, a historiadora Patrícia de Freitas (1997) argumenta
como esse processo foi construído. Cita ela a importância dos Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) bem como do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC), que por
meio de seus intelectuais atuou como propulsor, perpetuador e
mantenedor dessa visão – do território catarinense como um “Estado branco”,
desconsiderando, omitindo e invisibilizando completamente as populações
indígenas e afro-brasileiras como formadores do Estado e da nação brasileira.
Segundo a autora esses intelectuais “articulavam a construção da nação e identidade nacional nos moldes
europeus. Envolviam concepções raciais que diziam respeito à formação do povo
brasileiro e que, consequentemente desqualificavam o índio, o negro, o mestiço,
enfim todos os não brancos. A elite brasileira demonstrava em seus discursos, a
inferioridade da raça brasileira que impedia a prosperidade da nação. (...) O discurso difundido pelos institutos e históricos geográficos era de
exaltação da nação, responsável pela perpetuação e consolidação das falas oficiais
do Estado” (FREITAS, 1997, p. 57).
Isto
significa que por meio do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina,
os dois dos seus principais intelectuais, a saber, Oswaldo Rodrigues Cabral e
Walter Piazza, a história afro-catarinense sempre ficou invisibilizada em todos
os espaços e em especial nas escolas. Freitas denominou essa teoria de “teoria
da insignificância”.
Da mesma
forma, Lavina (2004) ao estudar a história dos povos indígena catarinenses
chegou à conclusão que “ a história das populações indígenas em Santa Catarina
é quase a história dos povos invisíveis (...) Mesmo entre os historiadores o
assunto raramente passa de um capítulo das obras de História do Estado ou das
comunidades que o formam, repetindo sempre as mesmas fontes e eternizando
lugares comuns a respeito desses povos que, se formos acreditar nesses
trabalhos, teriam deixados como sinais de sua passagem apenas nomes de rios,
lagos e montanhas. Seria uma contribuição basicamente topográfica. Porém, o
papel que desempenhavam – e que desempenham - nesta mesma história está longe
de ser insignificante” (LAVINA, 2004, p. 73).
Além das
pesquisas desenvolvidas por Freitas e Lavina, também a antropóloga Ilka
Boaventura Leite ao trazer a invisibilidade do negro em Santa Catarina menciona
que “o sistema escravista em Santa Catarina sempre foi julgado como
desimportante, secundário, insignificante. Neste “pacote”, os descendentes de
africanos que aqui viveram e vivem tornaram-se sob esta perspectiva também
insignificantes” (LEITE, 1988, p. 167). Porém, pesquisas atualizadas como o de
Cardoso (2002; 2008) Malavota (2011) entre outros, não só refutam e descartam
essa tese, como tem demonstrado a presença marcante, constante, ativa e
permanente da população negra nos mais diversos aspectos da vida cultural,
social, econômica e política em Desterro ( atual Florianópolis) e pesquisas como as de Albuquerque (2014),
Silva (2008), Carvalho (2008) tem
demonstrado a presença da população negra em outros espaços territoriais de
Santa Catarina como na Serra Catarinense, no Vale do Itajaí e no Planalto
Catarinense, constituindo o que denominamos de africanidades catarinenses.
Porém e,
apesar destas recentes pesquisas, essas africanidades catarinense foram e, em
grande medida continuam sendo ignorados, invisibilisados no estado de Santa
Catarina, particularmente na visibilidade fomentada pelo Estado que continua
focando na visibilização e presença de tradicionais moradores imigrantes
europeus, reforçando e apoiando as tradicionais festas ditas açorianas bem como
as ítalo-germânicas como a Oktoberfest, Fenarreco, Shinkfest e tantas outras.
Assim, a educação, que é fruto dessa relação
do Estado com suas etnias reforça e reproduz a mesma representação presente em
todos os espaços e isto acontece inclusive nos livros escolares distribuídos
gratuitamente às escolas da rede pública de ensino do Estado de Santa Catarina. A exemplo disso citamos alguns materiais distribuídos às escolas
estaduais da Rede Pública de Santa Catarina onde a população negra ou indígena
é quase e/ou completamente invisibilizada.
O livro didático – “Atlas de Santa Catarina” (2008) ao
abordar sobre a história de Santa Catarina simplesmente menciona que “Santa
Catarina foi colonizada principalmente por açorianos, alemães e italianos”
(p.27) e quando traz o tema “Gente Catarinense” cita como populações:
açorianos, alemães, italianos e em “Outras influências” diz: que é
possível encontrar ainda descendentes de africanos, poloneses, russos,
(...), etc. Como assim, é possível encontrar
ainda descendentes de africanos, se os afro-catarinenses constituem uma
parcela significativa da população com suas contribuições nos mais diferentes
aspectos à história, patrimônio, cultura, economia destas terras?
Ainda o
livro “Santa Catarina em síntese” com publicação mais recente (2014) no
capitulo “Gente Catarinense”, abre o capitulo com a imagem cobrindo quase toda
a página de homens com trajes típicos na festa de Oktoberfest – de origem alemã
– na cidade de Blumenau e na página seguinte uma apresentação do grupo
folclórico do Lira Círcolo Italiano di Blumenau, durante a Festitália. Depois
destas páginas iniciais o restante do livro é toda uma exaltação e glorificação
às culturas açorianas, alemãs e italianas. Nem uma linha sequer é mencionada
sobre as contribuições sóciohistóricas e espaciais da população negra e
indígena no Estado. Essa negação e omissão proposital e escancarada mostra o
quanto esse Estado quer continuar embranquecido e permanecer naquilo que
chamamos de racismo epistêmico.
No
entanto, apesar destas populações estarem invisibilizadas nos espaços
escolares, elas estão presentes no Estado todo e constituem o que chamamos de
Africanidades catarinenses.
Mas então
o que seriam africanidades catarinenses? Como dar visibilidade a essas
populações? Como a escola e os professores podem contribuir nesse processo?
Para
conceituar tal palavra adotamos a perspectiva de Petronilha Beatriz Gonçalves e
Silva para quem ao dizer africanidades brasileiras estamos nos referindo as
raízes da cultura brasileira que tem origem africana. Dizendo de outra forma,
estamos de um lado, nos referindo aos modos de ser, de viver, de organizar suas
lutas, próprias dos negros brasileiros, e de outro lado, as marcas da cultura
africana que, independentemente da origem étnica de cada brasileiro fazem parte
do seu dia-a-dia. (SILVA, 2008, p. 151).
Entendemos
com a referida autora que as africanidades brasileiras tem suas raízes no
continente africano e que portanto, todos nós brasileiros somos “encharcados” dessas
africanidades, pois temos em nosso cotidiano as marcas culturais, históricas e
sociológicas desses povos que violentamente foram forçados à virem para o
Brasil na condição de escravizados.
Ainda
Silva ( 2008, p. 152 – 153) afirma que as finalidade primeira da africanidade é
garantir o respeito aos direitos dos descendentes de africanos, assim como de
todos os cidadãos brasileiros, à valorização de sua identidade
étnico-histórico-cultural, de sua identidade de classe, de gênero, de faixa
etária, de escolha sexual e reivindica em todos os níveis de ensino que se
valorizem igualmente as diferentes e diversificadas raízes das identidades dos
distintos grupos que constituem o povo brasileiro; busquem compreender e
ensinem a respeitar diferentes modos de ser, viver, conviver e pensar, [...]
permitem aprender e respeitar as expressões culturais negras que, juntamente
com outras de diferentes raízes étnicas compõe a história e a vida e de nosso
país, situar histórica e socialmente as produções de origem e/ ou influência
africana, no Brasil, e proponha instrumento para que sejam analisadas e
criticamente valorizadas. (SILVA, 2008, p. 152-153).
Como
contraponto a essa visão hegemônica da formação das populações no território
catarinense e trabalhando na perspectiva da desconstrução da ideia de um estado
branco e europeizado, tem havido um movimento curricular no território
catarinense no sentido de apresentar uma visão contra-hegemônica a essa
proposta nas escolas de Santa Catarina. Ilustrativo disto foi a publicação e
homologação dos Currículos Bases do
Território Catarinense tanto do Ensino Fundamental quanto do Ensino Médio
as africanidades como tema de estudo e de pesquisa.
Ainda que
com fortes críticas como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi imposta
aos educadores brasileiros, os educadores de todo o país e os movimentos
curriculares advindos dela geraram no Estado de Santa Catarina todo um processo
de discussão fortemente motivado pelos educadores do Estado: a implementação
neste currículo de demandas sociais e educacionais até então pouco ou não
visibilizadas nos documentos curriculares. Assim, o Currículo Base da Educação
Infantil e do Ensino Fundamental tem um capítulo dedicado a educação para as
relações étnico-raciais bem como para a história afro-brasileira, africana e
afro-catarinense e indígena.
O
caderno 3, do currículo do Novo Ensino Médio nomeado Currículo Base do Ensino Médio do Território Catarinense – portfólio de
trilhas de aprofundamento, no item “Territórios e territorialidades das
populações tradicionais e comunidades negras catarinenses” (SC, 2019, p. 243) e
nas Unidades Curriculares I, II e III sugere uma série de habilidades e
conteúdos com orientações teórico-metodológicos para o trabalho do professor
com africanidades brasileiras e afro-catarinenses em sala de aula.
Também
o item “Identidades e territórios catarinenses: concepções, avanços e desafios”
(SC, 2019, p. 253) inova ao trazer pela primeira vez um conjunto de termos que
podem ser estudados em sala de aula enquanto africanidades brasileiras e
afro-catarinenses. Cita como objetos de estudos: as tranças africanas, suas
significações e seus códigos; religiosidade do povo catarinense: religiosidade
e fé; religiões afro-brasileiras; ervas medicinais; culinária afro-brasileira;
irmandades negras da época colonial; clubes sociais negros; a capoeira enquanto
ressignificação da diáspora; heranças africanas nas linguagens, músicas, e
danças brasileiras; bailes e festas de antigamente no território catarinense,
instrumentos musicais africanos e afro-brasileiros. (SC, 2019, p. 258).
Tais
documentos curriculares, bem como a resolução nº 004 de 21 de fevereiro de 2022
reforça e obriga as escolas a estudarem a história e cultura afro-catarinense,
africana e indígena, bem como a educação para as relações étnico-raciais. O
artigo 3º da referida resolução cita que “O ensino de história e cultura
afro-brasileira e africana e cultura indígena é obrigatório no estado de Santa
Catarina abrangendo os estabelecimentos de educação Infantil, Ensino
Fundamental e Médio, públicos e privados, incluindo todas as modalidades de
ensino”.
Todos
esses documentos curriculares bem como a resolução impõe à educadores e
educadoras de Santa Catarina novas demandas, ou seja, estudos de histórias e
culturas afro-brasileiras, africanas e indígenas, bem como formação sólida para
conhecer as diversidade de etnias que constituem a população do Estado, para
além da açoriana, alemã e italiana superando a visão racista de um “estado
europeu e branco incrustado no sul do Brasil”. Para isso, entre outras ações na
nossa prática pedagógica devemos trazer à tona personagens que compuseram e
compõe as africanidades catarinenses como Antonieta de Barros, Cruz e Sousa,
Trajano Margarida, Ildefonso Juvenal e tantos outros e outras que tiveram
destaque e relevância na história e cultura catarinense.
Como
professores e professoras da Educação Básica comprometidos com a luta
antirracista e com a visibilidade das histórias, culturas afro-brasileiras,
africanas e indígenas na educação básica precisamos urgentemente que os estados
brasileiros e, em particular o de Santa Catarina fomente política públicas de
produção e distribuição de materiais didáticos ( livros didáticos, jogos,
cartilhas, brinquedos, etc.) sobretudo, escritos e produzidos por negros,
negras e indígenas no sentido de estimular a história e cultura
afro-brasileira, africana e indígena na sala de aula.
É preciso
portanto, incorporar em nossas aulas como referências, autores/autoras negros e
negras e indígenas bem como memórias, experiências e narrativas de povos outros
como ciganos, ribeirinhos, quilombolas, populações LGBTQIAP+ numa perspectiva
de interculturalidade critica e, partindo do local para o global e não ao
contrário.
Para dar
conta dessas demandas devemos nos ancorar nos movimentos sociais em um
movimento que educam, reeducam e subvertem a educação colonial e do sistema
colonial instituído com a colonialidade do poder. Neste sentido, devemos
subverter o currículo trazendo à tona as africanidades catarinense por meio de
um comprometimento ético e político e epistemológicos, vinculados ao respeito
aos direitos humanos e a educação para as relações étnico-raciais bem como
fazer emergir desse tema discussões como racismo, preconceitos, raça,
violências, entre outras.
Fazendo
isso, tanto o estado quanto os docentes estarão promovendo em sala de aula um
ambiente de respeito, alteridade e acolhimento à diversidade étnico-racial,
garantindo assim entre outras coisas o respeito aos direitos humanos
fundamentais de todos e todas, sobretudo em relação ao combate ao racismo,
preconceito e todas as formas de discriminações.
Referências biográficas
Odair de
Souza. Mestre em Ensino de História. Doutorando no Programa de pós-graduação em
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Bom dia Odair de Souza! Queria parabeniza-lo pela proposta em discutir e tentar desfazer dessa imagem de um sul do Brasil europeizado. Considerando sua análise e a conjuntura contemporânea, você percebe que essas populações ganharam mais protagonismo ou ainda encontram resistência para terem suas histórias reconhecidas?
ResponderExcluirEu penso este movimento de visibilidades das culturas afros e indígenas nas salas de aula estão acontecendo. Porém, no estado de Santa Catarina este movimento curricular ainda está muito devagar, por uma série de questões entre eles por as populações deste Estado se acharem " os europeus no sul do Brasil" e que portanto, não precisamos discutir histórias e culturas afro e indígenas; Outra coisa é a formação de professores/as - onde o Estado - recentemente tem emplacado formações mais consistentes nestas temáticas; outra questão é o próprio currículo oficial ( Propostas curriculares , etc) que até uns cinco anos atrás era extremamente eurocêntrico, mas que por foças dos movimentos negros e professoras/es antirracistas tiveram que "se abrir" para essas demandas e essas legislações. Só para você ter noção, somente este ano o Conselho Estadual de Educação elaborou uma resolução que torna obrigatória o ensino de ERER no Estado, embora já tenhamos a 10.639/2003 desde 2003, ou seja, quase 20 anos. No entanto, não podemos ser totalmente pessimista. Tem escolas e professoras/es fazendo trabalhos muito bons que infelizmente não são divulgados. Obrigado pela pergunta
ExcluirOdair de Souza
Dentro do Ensino de História, podemos construir reflexões que em sua maioria podem gerar uma ação pedagógica. Desse modo, como vocês estabeleceram esta ação dentro de sala de aula, diante dos debates construídos sobre a História e Cultura afro-brasileira?
ResponderExcluirPenso que uma maneira de estabelecer esta relação entre a história e cultura afro-brasileira e africana é estudar e praticar o que dizem as diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana estabelecida por meio do parecer 003/2004 do Conselho Nacional de Educação. Uma outra maneira seria ver o que tem nos currículos oficiais e colocar em prática a partir dali. Porém, penso que os materiais didáticos - livros didáticos - não dão conta de responder as demandas dessas diretrizes e por isso a necessidade de projetos pedagógicos mais consistentes e demorados, projetos interdisciplinares, ou até mesmo um projeto da disciplina mais longo. Tipo: Mulheres cientificas africanas e afro-brasileiras. É um tipo de atividade que não se consegue em uma aula ou duas. Se faz necessário um projeto mais amplo. Nas escolas públicas penso que isto é mais tranquilo - que haja mais espaço pra esses tipos de trabalhos - já nas escolas particulares penso que isso é muito difícil devido a metodologia de aula por apostilas ou até mesmo de alcance de resultados numéricos em final de ano. Outra possibilidade de trabalho é trabalhar a partir do que se tem na comunidade: Exemplo: Se tem sacerdotisa de religiões de matriz africana, trazer elas para conversar com os estudantes, se tem capoeiristas, trazerem eles pra conversar com os estudantes e assim sucessivamente. Enfim, o professor/a que trabalha com ERER tem que ser um professor pesquisador e criativo e pensar sempre coisas diferentes para além do livro didático.
ResponderExcluirOdair de Souza